Julie & Julia (Julie & Julia) 2009


Cinema Ao Molho Rosé
Comédia de astral elevado mostra que a arte da cozinha pode ser bem mais divertida do que a gente imagina
Davi Boaventura

Quando Mano Menezes foi convidado para assumir a Seleção, ele não tinha grandes títulos no currículo. Nada de Libertadores ou Brasileirão, o que lhe credenciou ao cargo foi sua capacidade de realizar trabalhos respeitáveis mesmo em condições não favoráveis. Guardadas as proporções, e as diferenças de terreno, Nora Ephron é igualzinha a Mano. Nunca foi uma cineasta de mão cheia, Oscar com certeza é um sonho distante, mas seus filmes dificilmente entram no terreno das bombas, quase sempre nos deixando com um sorriso no rosto e aquela sensação de bem estar.
“Julie & Julia” (2009), o oitavo da carreira de Ephron, se aplica perfeitamente nesta categoria. Não chega a ser um banho de mar em um dia de calor, no entanto é leve e bastante agradável, com um ritmo gostoso de seguir. E o melhor: apesar do tema geralmente desprezado pelos integrantes masculinos da plateia, consegue empolgar tanto os homens quanto as mulheres, colocando os dois grupos em par de igualdade graças ao bom humor do roteiro e à eternamente competente Meryl Streep, aqui com a sua 16ª indicação à Academia.
São dois eixos narrativos complementares, ambos baseados em histórias reais. De um lado, Julia Child (Streep), uma dona de casa que, para ocupar seus dias em Paris no final dos anos 40, resolveu aprender a cozinhar, tornando-se no fim uma das maiores referências em culinária francesa nos Estados Unidos. Do outro lado, já no século XXI, Julie Powell (Amy Adams), uma jovem estagnada cujo cotidiano dá uma reviravolta quando ela se coloca em um desafio de certo modo insano, preparar todas as 524 receitas do livro de Child em apenas 365 dias.
Entre as duas tramas, que nunca se cruzam, os fios condutores tomam forma na necessidade de superação e no amor pela comida. O primeiro é batido, mas inofensivo. O segundo é implacável. A cada novo prato exibido na tela, é duro não se remexer na cadeira, cheio de água na boca. Molhos, tortas, assados, o cardápio varia com uma elegância capaz de deixar qualquer gourmet apaixonado.
O curioso nisso tudo é observar como a tecnologia se insere no enredo, seja na cozinha, seja no blog criado por Julie para relatar sua experiência. Não é fácil adentrar esta área sem parecer didático ou simplório e a diretora/roteirista se sai muito bem na tarefa, principalmente ao mostrar os dramas vividos por todo blogueiro iniciante, como a felicidade pelo primeiro comentário e a paranoia em não atender os seus leitores.
Pena mesmo é que o filme não venha acompanhado de um aperitivo.

Mais informações sobre o programa em: http://www.guiadecanais.com.br/Programa.aspx?id=15053&t=f

Nenhum comentário:

Postar um comentário